terça-feira, 17 de maio de 2016

Sevilha, dia 1: o rio e as flores

Há dez anos fomos a Sevilha pela primeira vez. No mês passado resolvemos lá voltar. Lembrávamo-nos principalmente da sua alegria e do seu calor. Mas também de ser uma cidade ao mesmo tempo familiar e exótica.
Tal como da primeira vez, fomos de autocarro. Saímos de Tavira às 9h05 e chegámos às 13h à Plaza de Armas.


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Assim que chegámos e saímos da estação de autobuses, sentimos logo o ar quente e a vida da cidade a murmurar: o trânsito, as pessoas nas ruas largas, as bicicletas, os edifícios coloridos.
Dirigimo-nos para o rio, sempre a olhar para o mapa. Havia um restaurante recomendado pelo guia (de papel) para encontrar. Tínhamos tempo porque, normalmente, em  Espanha os almoços são servidos a partir das 14h.
Cedo avistámos o Rio Guadalquivir. Bicicletas deslizavam na ecopista que se estende ao longo das suas margens.

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Passámos a Ponte de Isabel II que liga o centro de Sevilha ao Bairro de Triana.

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A fome aumentava enquanto caminhávamos  por entre grupos de turistas, esplanadas cheias, camareros  sorridentes. Demorámos a encontrar o restaurante pretendido. Foi no momento em que pensávamos que já não o íamos encontrar, que ele apareceu: Restaurante Rio Grande.
Sentámo-nos na zona exterior, uma ampla varanda sobre o Rio Guadalquivir. O atendimento foi rápido e simpático e a comida era boa: gazpacho, pollo a la plancha, ensaladilla rusa, agua.

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gazpacho


Comemos calmamente. No rio passavam cruzeiros turísticos, praticantes de stand up paddle e canoa. Mesmo em frente erguia-se a Torre del Oro.

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Lembrámo-nos de um poema sobre esta paisagem, de García Lorca:

Mi niña se fue a la mar,
a contar olas y chinas,
pero se encontró, de pronto,
con el río de Sevilla.

Entre adelfas y campanas
cinco barcos se mecían,
con los remos en el agua
y las velas en la brisa.

¿Quién mira dentro la torre
enjaezada, de Sevilla?
Cinco voces contestaban
redondas como sortijas.

El cielo monta gallardo
al río, de orilla a orilla.
En el aire sonrosado,
cinco anillos se mecían.

Do outro lado da rua tocadores de guitarra acompanhavam as conversas animadas. Na esplanada sobressaem as chicas de voz forte e maquilhagem expressiva.
Os trabalhos em cerâmica são uma constante na decoração exterior das casas: os mais frequentes são os vasos de flores coloridos e os painéis de azulejos, representando paisagens, símbolos da cidade como as bailarinas de flamenco, profissões tradicionais e outros.

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Andando pelas ruas à procura da Iglesia de Santa Ana deparámo-nos com os nomes singelos e curiosos de algumas ruas.

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Entrámos na Calle Rodrigo de Triana, uma das mais típicas, com casas pintadas a branco e ocre.


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A Iglesia de Santa Ana, fundada no séc. XIII é um centro de devoção popular do bairro de Triana.


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No interior encontra-se a Pia dos Ciganos, que, segundo a tradição, transmite o dom do flamenco aos filhos dos crentes. Em frente à Igreja está um pequeno pátio cheio de esplanadas abrigadas por árvores frondosas. Os sombreros perdem a utilidade. Muita gente escolheu este local para passar o período da siesta, conversando e depenicando os tradicionais petiscos.

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Sardinheiras transbordavam nas varandas de algumas casas. Noutras, plantas mais esguias apontavam para o céu.


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Continuámos pelo bairro de Triana (a origem do nome Triana remonta ao imperador romano Trajano e foi o bairro cigano de Sevilha) em busca das oficinas de cerâmica. 
Na Calle de San Jorge, no nº 31, encontrámos uma popular loja – Cerâmica de Santa Ana – onde existe uma grande variedade de artigos em cerâmica.


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Na Plaza de Altozano, o ponto central de Triana, encontrámos outro elemento próprio da arquitectura tradicional – os miradores – varandas de ferro forjado envidraçadas.

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Regressámos à beira do rio para seguirmos em direcção ao Parque Maria Luísa. O movimento diminuíra e havia esplanadas completamente vazias. Das mesas desaparecera la gente e apareceram garrafas transformadas em jarras contendo rosas vermelhas.

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Do outro lado do do rio, o Palácio de San Telmo.

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Após atravessar a Puente de San Telmo, seguimos pela Avenida Palos de La Frontera, ladeada pelos imponentes edifícios do referido Palácio e do Hotel Alfonso XIII.
Parámos para descansar na Glorieta de Gustavo Adolfo Bécquer: um conjunto de esculturas que se abrigam à sombra de um cipreste. Esculpidos em mármore e bronze estão o busto de Bécquer, três figuras femininas que representam as diferentes fases do Amor e da Poesia, Eros e Cupido.

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Passámos por um recinto fechado de onde vinha uma música alegre misturada com vozes e risos sonantes. Espreitámos: era uma boda. Do meio da multidão saltavam à vista as flores nos cabelos de algumas mulheres. Mesmo ao lado, na zona mais verde do Parque María Luísa, um grupo de meninas com vestidos vaporosos brincavam.
Seguimos para a Plaza de España.

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Nesta tarde de sábado muitos optaram por vir até aqui para andar de barco ou tirar fotografias junto aos painéis de azulejos que representam as diferentes províncias de Espanha. A maioria eram famílias com crianças e turistas asiáticos.

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O céu continuava nublado. O cansaço fez-se sentir e ouvir. Ainda assim continuámos a celebrar a descoberta desta cidade, tentando manter-nos despertos para os pormenores.
Saindo da Isleta de los Patos, percorremos uma grande zona ajardinada, onde rãs e leões são os guardiões das principais fontes.


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Para o fim do dia ficaram o Museo Arqueológico Provincial e o Museo de Artes y Costumbres Populares. Começámos por este, onde é possível conhecer as artes tradicionais andaluzas, tais como a cerâmica, a que mais nos interessou. Vimos um documentário sobre esta arte, para a seguir nos deliciarmos com as peças de cerâmica artística.

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Passámos rapidamente pela exposição temporária sobre “Encajes e Bordados”, espreitámos o claustro e o tecto mudéjar e saímos rumo ao Museo Arqueológico.

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Entre um museu e o outro não pudemos deixar de parar junto dos belíssimos canteiros de rosas de todas as cores.

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No centro, um lago onde um patito parecia aventurar-se em território desconhecido. De forma um pouco atabalhoada, mas persistente, nadava entre as folhas largas dos nenúfares. Parecia divertido.



O Museo Arqueológico situa-se no Pabellón Neo-renascentista de Las Bellas Artes, da exposição ibero-americana de 1929, e da sua colecção destacam-se mosaicos e fragmentos arquitectónicos romanos, provenientes dos principais locais de escavação da província, tais como Itálica.

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Diana


Foi quando saímos do museu que a neblina que tinha permanecido todo o dia começou a dissolver-se e os edifícios começaram a reflectir a luz dourada do pôr-do-sol.

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Subitamente, a cidade ganhou uma vida nova. É conhecido o costume espanhol de sair à rua ao fim da tarde. Passeámos por um centro de Sevilha fervilhante. À medida que a luz do sol diminuía, a alegria e o movimento pareciam aumentar.
Seguiu-se uma procura por um sítio onde passar as duas noites seguintes. Não foi fácil, vários hotéis estavam completos.  Acabámos por ficar no hotel Patio de La Cartuja, que tem um espaçoso pátio e varandas com sardinheiras floridas.

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Acabou por se revelar o sítio ideal, pois durante a noite permitiu um grande recolhimento em relação ao burburinho da cidade. Eram cerca de 22h30. Deixámos a mochila no quarto e voltámos lá para fora, em busca do jantar.



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